Eu sou simpatizante e praticante de reciclagem. Não sou radical e muito menos "a ecologicamente correta". Diria que estou aprendendo e me conscientizando, quem sabe um dia eu possa ser "a ecologicamente correta", eu gostaria, ainda que isso pareça muito chato. Bem antes de reciclagem se tornar o assunto da moda eu já me questionava em relação ao tempo de vida muito curto dos utensílios domésticos e a dificuldade em consertá-los. Alguns exemplos:
O FERRO DE PASSAR.
Eu sou casada há 25 anos e acho que já tivemos no mínimo uns 6 ferros de passar nesse tempo, 2 deles por causa do cabo que estourou e uns outros 4 porque eu não aguentava mais limpar as coisas grudadas embaixo deles. Tentei consertar alguns sem sucesso mas ainda tenho o primeiro guardado como back up pois esse era do tempo em que as coisas eram feitas para durar e por isso ele teve conserto. Tá certo que eu nunca fui uma dona de casa muito cuidadosa e isso deve ter contribuído para a curta vida dos passantes. Nunca tivemos empregada e por aqui cada um sempre passou sua própria roupa, exceto meu marido. Sendo assim fica difícil cuidar do eletrodoméstico com o carinho que ele talvez merecesse, mas 6 em 25 anos dá mais ou menos 1 ferro de passar a cada 4 anos... O da minha mãe deve ter durado uns 25 anos...
O ESTABILIZADOR
No final de 2008 eu comprei um estabilizador novo, com mais tomadas. Depois de menos de 1 ano de uso ele disparou a dar aqueles cliques e eu tive que desligá-lo. Como não achava o manual, voltei à loja onde comprei para obter informações sobre o conserto e a moça me disse que provavelmente não valeria a pena consertar, era mais fácil e recomendável comprar outro. Fiquei inconformada em descartar um equipamento praticamente novo e voltei para casa disposta a localizar o manual. Fiquei muito feliz quando o encontrei e descobri que o aparelho tinha garantia de 3 anos, isso mesmo: 3 anos, mas só tinha uma autorizada aqui na cidade. Mandei consertar e já estou com ele em pleno funcionamento há alguns meses. Já pensou que desperdício se tivesse ouvido a moça da loja? Um aparelho novinho em folha descartado como se fosse lixo?
O CHAPEX TOSTADOR
Ontem fui à feira livre aqui perto de casa para levar meu chapex tostador para consertar. Esse é o segundo chapex tostador em 25 anos. Chapex Tostadores são mais duráveis que ferros de passar e muuuiito mais duráveis que estabilizadores rsrs. O primeiro, herdamos do avô do meu marido e como já era bem velhinho acabamos trocando por um novo (que já está bem velhinho também). O metal desse último é forte e resistente, bem diferente dos de hoje em dia que são muito fininhos. Um dos 2 cabos plásticos quebrou há algum tempo e agora quebrou o cabo de metal. Como a rosca ficou presa dentro do buraquinho, não dava mais para usá-lo. Nas feiras livres aqui da minha cidade sempre tem aquelas bancas que vendem tampas de panela, parafuso, botão de fogão, sacolas e tudo que se possa imaginar. Além de vender todas essas coisas eles consertam cabos de panelas. Fui lá toda animada com meu chapex tostador, certa de que voltaria com ele quase novo...e...nada. Eles disseram que não tinham as peças necessárias e que se tivessem que providenciar me custaria uns 10 reais sendo que eles tinham um chapex tostador novinho ali por apenas 7,50. Enquanto ele me explicava isso, foi analisando a peça e conseguiu tirar a rosca do cabo que tinha quebrado. Voltei para casa e coloquei o cabo de volta no lugar onde ele tirou a rosca e voltei a usar o velho chapex tostador. Meio capenga, é verdade, mas já garantiu meu café da manhã de ontem.


Engraçado que quando eu chego em algum lugar procurando conserto para alguma coisa, as pessoas geralmente ficam me olhando como se eu fosse a maior pão dura do mundo, o que não é verdade, até sou consumista demais pro meu gosto (embora tenha melhorado muito). A questão é outra, tem horas que o lado financeiro até perde a importância. Será que é mesmo necessário ter sempre que substituir as coisas? Desperdício não é uma coisa bacana. Trocar, só se não tiver jeito mesmo. Acho que vou iniciar um movimento pela volta dos "Faz tudo" de antigamente. Tá cada dia mais difícil (e mais caro) encontrar alguém que conserte coisas. Com isso vamos aumentando o lixo a nossa volta e desestimulando o trabalho, muitas vezes artesanal, de recuperar peças.
Acho que deveríamos fazer um estágio de reciclagem em Cuba. Lá sim eles entendem desse assunto e sabem consertar as coisas e mantê-las funcionando como ninguém. Não pensem que sou simpatizante do regime comunista cubano não, na verdade sou totalmente contra e acho lamentável impedir o progresso e a liberdade de alguém, mas é que me lembrei daqueles carros antigos e velhos que continuam funcionando há décadas, mesmo sem estoque de peças originais para reposição. Não precisamos e nem devemos chegar a tanto, mas aumentar um pouco o tempo de uso de um objeto ou equipamento faria bem não só para o planeta, mas também para nossos bolsos.