
Meu post hoje será um pouco diferente. É provável e compreensível que a maioria de vocês não o leia até o final pois o tema não é agradável como nossos assuntos habituais, mas também não é triste pois até agora está caminhando para um final feliz (confirmem pelas fotos acima, são fotos que mostram as fases pelas quais passei de abril/2007 até nov/2008 e que fiz questão de registrar). Na verdade estou escrevendo este post para que as pessoas que forem até o google a procura de depoimentos sobre câncer o encontrem. Quando me vi doente, a primeira coisa que fiz foi procurar na internet depoimentos de pessoas que passavam ou que passaram por situações semelhantes a minha. Quase não encontrei nada. Me senti um pouco solitária, mas nada que o amor da minha família e dos meus amigos não suprisse. Por isso decidi que, quando possível, daria um jeito de escrever sobre o assunto para que pessoas nessa situação tivessem um relato de alguém que passou por coisa parecida. Engraçado como até hoje não derrubei uma lágrima pela situação. Nunca fui de ter pena de mim mesma. A primeira coisa que se passou pela minha cabeça quando li o resultado da análise, foi a lembrança da minha mãe nos últimos momentos dela, ela faleceu em decorrência de um câncer de intestino. É claro que fiquei triste e assustada, mas não demorou mais que uma hora para que o choque inicial passasse e o meu lado racional, que sempre foi mais forte, começasse a analisar as alternativas. Eu tinha duas: Sentar e chorar até morrer ou ir a luta. É claro que optei pela segunda. Pensei que se eu não fizesse nada teria uma só possibilidade: a doença me dominaria rapidamente, viriam as dores, ficaria debilitada e por fim morreria. Se eu lutasse teria duas possibilidades: me curar ou não. Se me curasse voltaria a ter uma vida normal (ou quase), se não me curasse, ao menos prolongaria um pouco a vida, talvez tivesse tempo de resolver algumas pendências, daquelas que vamos empurrando por falta de tempo, como arrumar as gavetas por exemplo e então voltaria para a primeira alternativa (a doença me dominaria (não tão rapidamente), viriam as dores, ficaria debilitada e por fim morreria). Eu costumava pensar também, que se a doença quizesse me levar, ela teria muito trabalho. Não seria de mão beijada. Acho que essa maneira de ver as coisas foi bastante importante para que pudesse enfrentar a tão mal falada quimioterapia. Passei por ela com tranquilidade. É claro que existem efeitos desagradáveis, mas não é o fim do mundo. Eu ia e voltava dirigindo, levava uma vida quase normal. Os sintomas incomodam mais na semana em que você faz a quimio. No meu caso fazia de 20 em 20 dias. O meu maior problema, e o que me impediu de voltar ao trabalho, foram as dores e o formigamento nos braços (efeito do medicamento Taxol utilizado na quimio). As dores eram muito intensas, cheguei a dormir por várias noites sentada no sofá, feito estátua, tomei remédios bem fortes para amenizar as dores e estes me causaram efeitos colaterais bem desagradáveis mas parei de fazer uso deles em julho e as dores nunca mais voltaram. Só o formigamento é que ainda persiste mas é quase nulo. É importante ressaltar que os sintomas não são iguais para todos. As dores que eu sentia por exemplo, eram raras em outros pacientes. Provavelmente aconteceu comigo porque eu tinha LER (lesão por esforço repetitivo), aquele problema de quem digita muito. Volto ao trabalho em dezembro, só que agora me conscientizei que vou trabalhar para viver e não mais viver para trabalhar. Nos últimos tempos trabalhava tanto que sobrava pouca energia para a vida pessoal. Embora o assunto em tela seja um pouco pesado, quero dizer que essa fase também teve o seu lado positivo, nesse período pude conviver muito mais tempo com meu marido e minhas filhas, pude me voltar para o artesanato, minha antiga paixão, montei um blog, estou fazendo novos amigos, convivo bastante com o pessoal do meu trabalho, me alimento melhor, passei a praticar atividades físicas, deixei de fumar, cozinho com prazer e até consegui um cabelo lisinho (minha linda peruca). Não deixamos em momento algum que a tristeza ou a fraqueza nos dominasse. Por tudo isso, quero fazer aqui um alerta. Não deixem de visitar seu médico. Eu sempre trabalhei fora e trabalhava muito, muitas horas. Minha sorte foi que nunca deixei de ir ao médico. Cheguei a perder algumas consultas por conta de reuniões de última hora mas remarcava correndo. O tumor no ovário foi descoberto em um ultrassom de rotina, eu não tinha sintomas. Em julho de 2007 fui operada e de outubro daquele ano até janeiro de 2008 me submeti à quimioterapia preventiva pois o tumor estava encapsulado e em estágio inicial. Como a maioria das pessoas que passa por esse tratamento, fiquei careca, sem cílios ou sobrancelhas, mas comprei uma peruca linda (mais bonita que meus cabelos originais -risos), usei lenços bonitos amarrados de formas diferentes, procurei fazer apenas coisas boas, alegres, pensei sempre positivo. Algumas pessoas preferem continuar trabalhando, eu não. Preferi conviver mais com as pessoas que amo, afinal não sabia muito bem qual seria minha sobrevida (se analisarmos nenhum de nós sabe, não é mesmo?) . Meus cabelos já cresceram mas por enquanto ainda não os pintei e nem sei se vou pintá-los. Primeiro deixei grisalho porque acho que não teria outra oportunidade na vida de ver como minha aparência é de verdade (risos). Depois deixei porque achei que não ficou tão mal assim, penso que o que fica feio é deixar a raiz grisalha aparecer, o cabelo todo grisalho até que fica legal, aqui em casa ninguém quer que eu pinte. Vamos ver até onde eu consigo ficar assim. Ao que tudo indica será por um longo tempo. Tintas por enquanto só para pintar madeiras ou tecidos ou paredes. Espero que minha experiência, até agora positiva, sirva de incentivo para quem estiver em situação parecida. E se alguém tiver alguma pergunta sobre o assunto que fique à vontade. Ficarei feliz se puder ajudar. Ah! tenho que dizer uma coisa, minhas gavetas continuam desarrumadas. Este blog está me tomando um tempo... (risos)